Cesário
Os comentários da imprensa reflectiam essa abominação crassa e feriram a sensibilidade do poeta ao ponto de o levar a espaçar a colaboração nos jornais e mesmo a suspendê-la por largo tempo, chegando a fazer crer aos amigos que abandonava definitivamente a literatura.
No espaço de quatro anos – de 1880 a 1884 – não publicaria uma linha em jornais e revistas. Não se lhe esgotara o estro e tão-pouco deixara de frequentar o Café Martinho e a Cervejaria Leão de Ouro, onde se reuniam os pintores «modernos» chamados o «Grupo do Leão»; contudo, manteve, por todo esse tempo, um «desdém solene» pela imprensa.
Na semana seguinte, Silva Pinto fazia saber pela imprensa o seu propósito de tomar para si "a honra e a responsabilidade" de ser "o editor do [...] querido poeta", "satisfazendo assim nobilíssimos desejos de amigos e admiradores de Cesário Verde" e ao mesmo tempo executando, afinal, um projecto seu, concebido dizia "dias antes da morte do poeta".
Contextualização
No final do século XIX, o mundo apresenta-se bastante confuso. Assiste-se a descobertas científicas que revolucionam as ideias e provocam alterações de valores e de crenças, observando-se também conflitos, devido à competição económico-militar e ao advento do operariado. Todos estes factores desencadearão uma crise social e originarão as duas grandes guerras do século XX.
No fim do século XIX expressam-se inquietações na arte e na literatura. Coexistem várias correntes estéticas e anunciam-se outras que se imiscuem no Romantismo ou no Realismo, ou até se apresentam como contraditórias. Todavia, e embora opostos, o Realismo/Naturalismo e o Modernismo (na base do qual está o Parnasianismo e o Simbolismo) recusam o Romantismo.